quarta-feira, 23 de julho de 2008

Da idade da pedra à idade do cascalho...

A Folha online noticiou e eu fiquei abismado: Seção "Cotidiano"; Manchete "Vítimas reagem a raquetadas e ladrões são presos em Curitiba". Só para constar: não se trata da Folha; não se trata de Curitiba; se trata da banalização da violência! Como podemos passar por um momento histórico em que uma seção jornalística de massa dedicada ao quotidiano anuncia banalmente a prisão de bandidos após a resistência das vítimas a uma agressão física e com uma agressão física!

Desculpe, mas de onde eu venho o "caderno policial" é só o começo dessa discussão. Segue-se o "caderno de política"; Sim! pois o que falta é uma política de segurança pública; uma política educacional; uma política de geração de emprego e renda (EMPREGO, viu, bolsa família!?!). E talvez um caderno setorial, um "fala comunidade".

De fato, chegar ao ponto em que um "Caderno de Cotidiano" noticie atos (criminosos graves) de violência como algo corriqueiro é o mesmo que dizer que: "Vovó errou a receita do bolo de fubá. Tá esclerosada, tadinha!". O problema não é que se tenha noticiado, que bom que se o fez! O problema não é que isso seja difundido como uma agressão pessoal e social. O espanto está que isso seja entendido (por um veículo de comunicação muito respeitado) como algo normal (inaceitável, mas quotidiano!!!!).

Não quero discutir as funções de um "caderno quotidiano", muito menos as intenções do editor, jornalista ou quem quer que tenha decidido pela publicação da notícia. Me preocupa, por certo, que tenhamos chegado a esse patamar! Após todas as promessas da modernidade (e até da pós-modernidade - ainda tentem me provar isso), evoluímos à idade do cascalho, ou seja, após transformar a pedra em roda, utilizá-la para fazer faísca (e fogo), consumimos tudo o que ela nos podia dar e ficamos com o cascalho... E para que serve o cascalho?

Os ecologistas que ainda venham provar o contrário (também se aceita argumentos de engenheiros da produção), mas o cascalho não nos serve de nada (ainda). Iniciar uma era em que se permita (socialmente, não se trata de de censura, mas de se aceitar a anomia!) uma regressão à banalização da violência, a um "pré-tribalismo" que ratifica os atos de força, é dar dois passos para trás, para dar mais um atrás.

Em quem botar a culpa então? Claro! nos sentiremos mais seguros se culparmos o jornalista, o jornal, o prefeito, o presidente, os políticos, a Rainha da Inglaterra. Nos esquecemos apenas que o que falta é uma ação social intensa, comprometida e responsável.
Estivemos por muito tempo (no Djibut, no Brasil é diferente) à espera de que alguém viesse nos doar uma alternativa legal, institucional, salvadora, para os nosso problemas. Nos imiscuímos de pensar no projeto da Era Moderna (as velhas: liberdade, igualdade e fraternidade), confiando que algum baluarte da sociedade o faria por nós. E cá estamos escandalizados (?) com a nóticia quotidiana de uma ato de violência motivado por um ânimo mesquinho.

Uma tentativa de roubo frustrada - afinal, o que duas mulheres, vítimas eternas da sociedade (sim, isso é uma crítica e um elogio ao feminismo) poderiam fazer contra homens com chaves-de-fenda - resolvida à raquetadas. Noticiada pelo "Caderno Cotidiano" do maior meio de difusão de mídia impressa do país. Um retrocesso no entendimento da sociedade, das suas formas de organização, das instituições que a compõe. Uma reafirmação da falta de argamassa para unir nosso cascalho.

Um comentário:

Leone Rocha disse...

Te achei! Vou te esperar por aqui.

A frase do Weber é ótima. Exagerar é tão bom! Só tenho o mal costume de às vezes exagerar na tolice. Adoro brincar de ser tolo.

Abraços.